sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Um causo apenas, mas vale ler...

Ontem, dia 18, estava feliz por conta de ter recebido um atrasado e saí para pagar umas muitas contas, compras umas coisinhas para minha linda companheira Cynthia, para minha Kim, que completou 9 meses, para minhas meninas Xokolate, Tchun e Cigana, que estão com pulgas e já passava da hora de vermifugar.
Bem, tinha outras tarefas também e estava pelas ruas.
Resolvi passar numa cumadre minha, mas antes resolvi entrar numa pet na Gilka Machado para ver preço do anti-pulgas e carrapatos.
Naquele momento havia um rapaz muito preocupado com um cachorro de rua que sempre ficava próximo ao seu bar, num local muito simples dentro de uma comunidade carente próxima.
Ele dizia que gostava muito do bicho, que tinha porte médio pra grande, mas que era muito simpático com ele e com sua familia toda. E só. Com o resto do povo ele não se misturava, não dava atenção nenhuma, porém o bichinho apareceu cedo pelo seu comércio e deu mostras de estar pedindo socorro. Sua esposa viu e o avisou.
Sem pensar duas vezes saiu pelas ruas atrás de algum socorro, certo de envenenaram aquele animal que, apesar de ser das ruas nada fazia que incomodasse alguém.
Perguntei se conhecia a Estácio de Sá, lá em Vargem Pequena, pois lá eles dariam um tratamento correto, digno e eficiente pelo preço justo. Ele me disse o seguinte: me diz como chegar lá, dinheiro não importa, eu dou um jeito, eu tô de bicicleta, boto ele na garupa, mas eu não quero deixar ele morrer, meu irmão adora ele.
Estavamos bem longe de lá e disse que ele fosse apanhar o cão pois eu iria levá-los de qualquer maneira. Acabou que tivemos que ir atrás do animal, que muito intoxicado, perdeu a noção dos sentidos, estava babando muito, tremelicando todo e acabou por cair num valão imundo da comunidade. Ele não pensou duas vezes, desceu lá e apanhou o bicho, ouvindo alguns dizendo que era para largar pra lá, que ele não iria sobreviver mesmo e os jacarés precisam comer também, achando graça daquela situação de agonia, de vida ou morte (acreditem este tipo de comportamento é compartilhado por pessoas de todas as classes, não apenas dos menos favorecidos e/ou ignorantes).
Botei do jeito que dava os dois, ali no banco da frente mesmo, o Rena (este é o nome do paraibano humilde, mas de coração exemplar) meio sem jeito tentando manter o "Pode" (este é o nome com que ele tratava o animal que todas as manhãs e, até o calar das vozes, ficava por ali, de plantão, na área do bar do Rena, que o alimentava regularmente, com o que podia.
Chegamos a Estácio (centro universitário de veterinária, que é referência aqui no Rio) e ele foi logo levado para a emergência devido ao seu estado, independente de se ter preechido uma ficha ou não. Isto ficou para depois. Ficamos os dois conversando enquanto os procedimentos eram feitos, ele preencheu a ficha e começou a contar causos do cão, que em mais de duas oportunidades o bichinho impediu a entrada de pessoas estranhamente, muito suspeitas em seu bar, que sempre se mantinha alerta para qualquer um que se aproximasse de seus filhos e até do seu irmão, que como disse lá acima, gosta muito do bicho.
A doutoura apareceu e disse que o quadro era grave, envenenamento mesmo e que após ter passado por alguns procedimentos ele ficaria no soro, em observação, levaria ainda duas injeções, uma anti-tóxica (descupem se português está desatualizado ou incorreto, apenas quero que sintam o que aconteceu) e outra para acabar com tremedeira toda que o fazia arder em febre. Avisou-nos que era um procedimento simples, mas que o resultado dependeria da vontade dele de continuar vivo e que seria muito bom se nós pudéssemos estar ao seu lado, dar carinho (olha gente, tava uma catinga que ninguém de lá estava aguentando (ele caiu na vala, lembram?), pois nós nem estavamos mais sentindo nada, Acostumamo-nos com aquilo facilmente e continuamos nossa conversa acarinhando o bichinho até ele ir se acalmando, até quase dormir.
Ficamos por lá durante pelo menos 4 horas, mesmo ele tendo obrigação em manter seu estabelecimento funcionando e abastecido, pois a clientela não quer saber de nada, quer mesmo é beliscar e beber. Este é o negócio que lhe mantém e a familia, que moram num pequeno apartamento encima de seu bar.
O Pode ficou bem, quase fugiu de nós numa carreira danada, parando apenas debaixo da carrocinha de uma senhora que vendia cafezinho e salgadinhos (ainda estava traumatizado com tudo aquilo, com o lugar e tudo o mais).
Na estácio, face a maneira com o carinho com que ele tratava aquele animal de rua e percebendo pela aparência que se tratava de pessoa humilde mas digna, cobraram apenas os medicamentos mais especiais, doando ainda vermífugo e outro remédio para ajudar na desintoxicação, que não é tão rápida.
Prronto. Eu os trouxe de volta para a comunidade que eles tanto conhecem.
O Rena? Ele resolveu arrumar um canto no seu bar para que o "Pode" fique ali nas madrugadas frias e sombrias (humanos e ratos são perigosos muitas vezes, os humanos então...). Ele, que sempre teve um amigo no Pode, agora também tem um segurança, bem desconfiado e esperto, um vira-latão super simpático, que além de guerreiro aprendeu mais uma vez com quem ele está lidando neste planeta.
Se fosse um coisa ruim, ninguém teria me mandandado lá para socorrer o seu "anjo da guarda", o Rena, um paraibano humilde, mas com coração em Deus.
Chorei (alegremente) escrevendo este causo para vocês, pois lavei minha alma e tive renovada a minha esperança de que há um tantinho de gente boa de verdade por aí.
Obrigado a quem chegou até aqui. De verdade.
Roger lelot

Um comentário:

  1. EVEY,

    OBRIGADO POR COLOCAR ESTE CAUSO DE MEU MARIDO ROGER LELOT!!!
    SEU BLOG ESTÁ LINDO,PARABÉNS!!
    BJS
    CYNTHIA

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