sábado, 9 de agosto de 2008

Não entendo...

Não entendo através de que acidente e em que estado de espírito foi que a primeira pessoa sujou sua boca com sangue e levou seus lábios em direção à carne de uma criatura morta, pôs mesas de corpos mortos em decomposição e ousou chamar de alimento e nutrição as partes que pouco antes haviam bramido e chorado, e movimentavam-se e viviam. Como poderiam os olhos suportar a matança em que as gargantas eram perfuradas, a pele esfolada e os membros arrancados? Como poderia seu nariz agüentar o fedor? Como é que a contaminação não ensombrava seu paladar, o qual fazia contato com as misérias dos outros e sorvia os sucos e os soros de feridas mortais? Certamente não são leões e lobos que comemos para defesa pessoal; pelo contrário, ignoramos estes e chacinamos criaturas dóceis e inofensivas, sem presas ou dentes para nos atacar. Por um pouco de carne tiramos-lhes o sol, a luz e a duração de suas vidas a que elas têm direito por seu nascimento e por sua existência".
Autor Romano Plutarco

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